Estrada Real da Cachaça
Se me perguntassem se o filme de Pedro Urano (fotógrafo de filmes como A Paixão Segundo Callado, Diário de Sintra, O Sol - Caminhando Contra o Vento) é um documentário "histórico", eu diria que não.
Não há um único plano de uma cabeça falante, deitando vasto conhecimento histórico sobre a estrada que vai da cidade litorânea de Paraty, no sul do estado do Rio, até o norte de Minas, chegando à localidade de Milho Verde. Não há também mapas, reencenações, fotos e nenhuma invencionice. Sob esse aspecto, não há um milímetro de filme "histórico" em Estrada Real da Cachaça (Brasil, 2008).
Por outro lado, friamente analisando, vê-se, afinal, que sim, trata-se de um documento histórico, mas feito noutra fôrma, muito mais carregada em tintas poéticas do que em tintas, digamos, acadêmicas. Urano escreveu, produziu, fotografou e dirigiu uma pesquisa de campo - coisa rara, visto que seus colegas documentaristas adoram ou contemplar o próprio umbigo ou sair à caça de algum personagem esquisito e doidivanas. (ou fazer filme sobre mordomo, cunhado e sabe-se lá mais quem)
Sons e falas entrecortadas, sobrepostas; a descontinuidade das imagens, a sutil "vertovizada" no momento de definir onde, afinal, vai dar a tal estrada, seguindo o barulho do trem. Pelo caminho, os bebuns de uma comunidade pesqueira em Paraty e uma velha rezadeira que prepara uma garrafada poderosa (com cachaça, é claro); os fiéis católicos de Morro Vermelho, que lavam a imagem do Cristo com a branquinha (porque, dizem, ajuda a conservar a madeira), as impagáveis lavadeiras de Milho Verde.
O diretor desfia a todos, num painel fundamentalmente brasileiro, porque cachaça, afinal de contas, é coisa nossa.
3 comentários:
Maneirissimo Pedro!!!
sucesso para vc e para a equipe.
Abração
Pedro,Ainda não tive a oportunidade de ver seu filme, mas os comentários e pequenos trechos que vi, me deixaram muito surpreso e ansioso para ver.Quando vamos poder ver em São Paulo?
Renato
Filme excelente! Parabens Pedro!
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